O crescimento da Igreja Evangélica tem feito do Brasil uma sociedade mais Justa? Ou não?!

 Censo mostra decréscimo Brasileiros estão abandonando a Igreja Católica e indo para a Evangélica. 


Representação católica caiu para 65%”, mostrando a o crescimento dos evangélicos. O que já, anteriormente ao censo, provocou preocupação no meio católico. 

Nesse momento precisamos saber para onde ir, e como ser evangélico nessa nova fase. Fase de liderança! É verdade que o crescimento é importante em todos os aspectos, entretanto, é suficiente para mudar as pessoas e a nação? Até que ponto os evangélicos fazem a diferença no Brasil e na América Latina? 

O artigo que Reginaldo Pradi escreveu “Converter indivíduos, mudar culturas”, publicado na “Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 20, n. 2”, trata especificamente desse assunto. Ali ele retrata a realidade do decréscimo católico e do crescimento evangélico e suas implicações. Veja abaixo uma pequena parte de sua análise, que diz respeito aos desdobramentos do crescimento evangélico. 


O crescimento da Igreja Evangélica tem feito do Brasil uma sociedade mais Justa? Ou não?! 

A continuar a inclinação real de transformação religiosa, a América de cultura católica se tornará num destino próximo culturalmente evangélica? As relações entre as religiões e as culturas compreendem aspectos diversificados. 

 Antropólogos ensinam que “a cultura constitui um processo pelo qual os homens orientam e dão significado às suas ações através de uma manipulação que é atributo fundamental de toda prática humana”, nas palavras de Eunice Durham (2004: 231).

 É comum afirmar que a religião não apenas é parte constitutiva da cultura, mas também a abastece axiológica e normativamente. E que a cultura, por sua vez, interfere na religião, reforçando-a ou forçando-a a mudanças e adaptações. Ainda que tais definições possam ser questionadas diante da crise conceitual contemporânea, religião e cultura ainda são referidas uma à outra, sobretudo quando se trata de uma nação, uma etnia, um país, uma região. 


Diz-se que uma cultura da América Latina e católica, além de diferentes divisões internas devidas à organização Histórico diferenciado de cada um dos seus países e regiões. Assim, uma cultura brasileira e algumas outras se distinguem por seu caráter sincrético afro-católico. Nelas, uma extensão religiosa de origem negra ocupa área relevante, maior que os de nativos; nos países em que prevalece uma religiosidade católica com pouca ou ura referência africana, componentes de origem indígena pode ocupar lugar mais considerável que examinado no Brasil. Sabemos, contudo, que a cultura muda, e a formação de uma cultura global se impõe a padrões locais. 

Nos dias atuais, com o adiantamento das igrejas evangélicas e o simultânea queda do catolicismo, o discussão sobre crença e cultura tem proposto, como esta, antes-referida: uma América Latina de maioria religiosa evangélica - se tal Mudança viesse a se concretizar - seria culturalmente evangélica? Não Brasil, apagaria os traços afro-brasileiros, repudiados pelos evangélicos de hoje? Extinguiria o carnaval, como festas juninas de Santo Antônio, são João e São Pedro, o falado "São João" do Nordeste? E os topônimos católicos seriam mudados - rios, serras, cidades, ruas? Os nomes de estabelecimentos comerciais, indústrias, escolas, hospitais? Uma cidade de São Paulo voltaria a se chamar Piratininga?


Pensadores e líderes católicos acreditam que a América  continua sendo um continente de catolico e que os latino-americanos, são naturalmente católicos. Há quem diga que a América Latina é somente católica! 

O crescimento exponencial do pentecostal mostra que isso já significa muito pouco. Acreditam também que, se a religião vai mal, é preciso renová-la agindo na cultura, no sentido de trazê-la de volta ao catolicismo. 

Para isso procuram estabelecer um diálogo da Igreja com a cultura e não com os indivíduos. A queda constante do catolicismo mostra que essa maneira de ver a cultura não é eficaz. Mas esse não é um problema que diga respeito apenas à Igreja católica.

O Vaticano pensa o mesmo com respeito aos países europeus: a Europa é um continente de cultura católica, logo, a presença cada vez maior de outras religiões, sobretudo as levadas pela imigração, aliada ao desinteresse dos europeus por qualquer religião, soa à Igreja como uma crise que se dá na suposta cultura européia católica e que pode ser sanada por um esforço da Igreja de restauração cultural. 

Enquanto perde fiéis sem parar, o catolicismo, nas palavras de Flávio Pierucci, “se pensa referido antes de mais nada a povos com suas culturas do que a seres humanos com sua humanidade” e insiste “em querer ‘evangelizar as culturas’, pretensão que hoje se resume na seguinte palavra de ordem teológica, mas de inspiração etnológica – ‘inculturação’” (Pierucci, 2005). 

Enquanto isso, o protestantismo pentecostal e neopentecostal segue adiante, conquista, nessa América católica, mais e mais fiéis, convertendo indivíduo por indivíduo, sem se importar a mínima com a evangelização da cultura. Sua estratégia consiste em trazer novos seguidores, convertidos individualmente para dentro de suas igrejas, construir mais e mais templos, avançar no território do outro, ciente de que “de grão em grão a galinha enche o papo”. Da cultura ele aproveita alguns elementos que possa usar em seu favor – símbolos, referências, imagens, benzimentos, pequenas magias a que os candidatos à conversão estão afetivamente habituados. 

A história recente do pentecostalismo no Brasil mostra, inclusive, que sua estratégia de expansão parte do individual, do miúdo, do pequeno, reservadamente, para aos poucos ir se mostrando de forma graúda, se impondo por fim na paisagem, forçando, por assim dizer, seu reconhecimento e ingresso na cultura. 

E a presença protestante, onde está? Na cultura brasileira, que ao mesmo tempo é católica e tem muito de religião afro-brasileira, falta o elemento evangélico. Se o candomblé virou cultura – com samba, carnaval, feijoada, acarajé, despacho, jogo de búzios –, as sisudas denominações evangélicas nunca foram capazes de produzir para o Brasil qualquer bem cultural importante, como chama a atenção Gedeon Alencar, em seu trabalho sobre a não-contribuição evangélica à cultura brasileira (Alencar, 2005). Até mesmo a música gospel, que é a produção evangélica mais próxima do consumo estético, é limitada ao universo dos crentes, incapaz de se auto-incluir no plano geral das artes de âmbito nacional, artes que o protestantismo brasileiro encara, de modo geral, com suspeição e recusa. Como exceção digna de nota, a música brasileira deve a formação de muitos músicos profissionais às pentecostais Assembléia de Deus e Congregação Cristã. 

Suponhamos, por fim, que o crescimento das religiões evangélicas as leve a suplantar o catolicismo em número de seguidores. O evangelicalismo se tornaria a religião da maioria, o catolicismo, de uma minoria. Se isso acontecesse, a cultura brasileira se tornaria evangélica? Dificilmente. O evangelicalismo seria a religião de indivíduos convertidos, um a um, e não a religião que funda uma nação e fornece elementos formadores de sua cultura. 

O processo histórico dessa mudança seria diferente daquele que forjou a cultura católica na América. Nesse futuro hipotético, cuja factibilidade não está aqui em discussão, a condição dada para que o protestantismo superasse o catolicismo teria implicado, primeiro, a secularização do Estado – já completada no presente –, e depois, a secularização da cultura – que se encontra em andamento. Porque é com a secularização que os indivíduos tornam-se livres para escolher uma religião diferente daquela em que nasceram. 

Então, quando tudo isso estivesse se completando, por mais cheias que estivessem igrejas, templos, terreiros, a cultura já se encontraria esvaziada de religião. Não haveria a substituição de uma religião por outra. No limite, por muitas outras, não apenas por uma. 



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